quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Infecção do Trato Urinário Relacionado ao Uso e Manejo Incorreto da Sonda Vesical de Demora


A Infecção do Trato Urinário (ITU) é responsável por 35 a 45% de todas as infecções adquiridas em hospitais, sendo esta a causa mais comum de infecção nosocomial. Em condições normais o trato urinário acma da porção dital da uretra é estéril. A presença do cateter de sondagem vesical na uretra remove os mecanismos de defesa intrínsecos do hospedeiro tais como a micção e o eficiente esvaziamento da bexiga, facilitando a translocação de bactérias para o interior da bexiga.
O uso de cateteres vesicais em pacientes internados em UTI é alto e está associado à incidência aumentada de infecções do trato urinário. Dos pacientes que são hospitalizados, mais de 10% são expostos temporariamente à cateterização vesical de demora,
fator isolado mais importante que predispõe esses pacientes à infecção.
Existem vários fatores de risco associados à infecção durante o uso do cateter vesical de demora, sendo os mais comuns:

* Colonização do meato uretral,
* Duração do tempo da cateterização,
* Ausência de válvula anti-refluxo no sistema fechado do coletor,
* Colonização microbiana da bolsa coletora de urina,
* Presença de diabettes mellitus,
* Falhas no manejo correto do catéter e da bolsa coletora.


A colonização do meato uretral por bactérias potencialmente patogênicas é considerada um importante fator de risco para a bacteriúria relacionada à cateterização urinária. As bactérias isoladas na bexiga são identificadas concomitantemente no
intróito uretral, sendo que a contaminação vesical se faz por migração retrógrada destes germes em torno da sonda a partir do meato uretral externo. Outra teoria baseia-se na observação de que nos pacientes sondados, a presença de bactérias na bexiga só ocorre após 24 a 48 horas após a identificação do mesmo agente na bolsa coletora de urina, indicando contaminação ascendente a partir do saco coletor. O sistema coletor estéril fechado foi aperfeiçoado ao longo dos anos, sendo utilizado na maioria dos hospitais de hoje, mas a bacteriúria ocorre em média em 10 a 30% dos pacientes cateterizados. Portanto, ele retarda, mas não elimina o risco de infecção. Nesse sistema, a sonda de Foley é introduzida através do meato urinário esterno em condições assépticas e ligada a um tubo coletor que, por sua vez, é ligado a uma bolsa de drenagem. Dessa forma, um patógeno pode entrar nesse sistema fechado por via intraluminal, ocorrendo a penetração em dois pontos, ou seja, na junção entre o cateter e o tubo coletor, e entre este e a bolsa coletora. Outra via de acesso, a extraluminal, é considerada quando uropatógenos potenciais que colonizam a região periuretral penetram na bexiga, entre a bainha do meato uretral e a sonda vesical. Esta última é a via mais freqüente pela qual um microorganismo causa infecção urinária relacionada ao cateter.
A incidência de infecção do trato urinário relacionada à cateterização vesical (ITUc) tem relação direta com a duração da cateterização, estando esse fator sempre presente em análises multivariadas. Entre os fatores de risco, este tem sido considerado o mais importante para o desenvolvimento de bacteriúria. Dados estatísticos nos mostram que as infecções urinárias surgem em 1 a 2% dos pacientes submetidos ao cateterismo vesical simples,e em até 10 a 20% dos pacientes submetidos à sondagem vesical de demora por períodos curtos.
Dentre os patógenos causadores de infecção do trato urinário mais comuns, temos:

* E. coli,
* Klebsiella spp.,
* Proteus spp.,
* Enterococus e Enterobacter spp..

Alguns cuidados importantes no manejo da sonda vesical de demora e seus dispositivos devem ser respeitados pela equipe de enfermagem para a prevenção de infecções relacionadas a esse procedimento invasivo:

1. Realizar a passagem da sonda obedecendo a técnica correta,
2. Ao transferir o paciente do leito, lembrar sempre de pinçar o tubo do saco coletor para que não haja refluxo da urina da bolsa coletora para dentro da bexiga (apenas para sistemas sem válvula anti-refluxo),
3. Manter sempre o saco coletor abaixo da cama do paciente,
4. Nunca desconectar o sistema na junção entre a sonda e o conector da bolsa coletora. Caso isso ocorra, deve-se retorar a sonda e realizar nova sondagem vesical,
5. Se houver necessidade de trocar a bolsa coletora (quebra da pinça, inutilidade do dispositivo) deve-se realizar nova sondagem vesical,
6. Ao desprezar a quantidade de urina da bolsa coletora, deve-se utilizar um recepiente único para cada paciente, limitando essa prática a no máximo três vezes por plantão,
7. Deve-se fixar a sonda corretamente
8. Evitar o uso do exercício vesical para a retirada da sonda pois propicia o surgimento de infecção urinária,
9. Nunca deve-se desconectar o tubo da bolsa coletora da sua inserção na sonda vesical.

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